domingo, 21 de novembro de 2010

Pra lá de Marrakech


Caos. Essa pareceu ser a palavra de (des)ordem por aqui. Chegamos em Marraquexe por volta das duas da tarde, abençoados por um céu azul e um sol quentinho, coisa que merecíamos depois dos seis graus de Milão.
Pra não variar, quase que a viagem não sai, pelo menos pra mim, que perdi a hora completamente e cheguei na estação de Lisboa com o trem já desembarcando para o Porto. Mas, depois dos susto, tudo deu certo. Aquela coisa de sempre, sair de Lisboa, ir para o Porto, chegar ao aeroporto do Porto, pegar um avião e, neste fim de semana, aterrisar em Marrocos.
Assim que chegamos na cidade em si, Marraquexe, tomamos (ou pelo menos eu tomei) um choque de realidade. É um outro universo. Os cheiros fortíssimos, as cores, as pessoas, os bichos, as motocas, os cavalos, as orações, é tudo misturado num espaço muito pequeno. O cérebro fica confuso, é muita informação. Na praça principal tem de tudo: um comércio gigantesco com milhões de barraquinhas que vendem desde frutas secas até bolsas de grife falsificadas. A crueldade com os animais é vergonhosa; há cobras, macacos, corujas, porco-espinhos, lagartos, todos sendo expostos para turistas, numa forma de espetáculo que não tem nada de espetacular. Não inventaram aqui a calçada: carros, pessoas, charretes e motocicletas passam umas entre as outras a todo o minuto. Também não existe semáforo; a “parada” é “ir na fé”. Há uma mistura desagradável de cheiros, de temperos, de essências, de pessoas, de animas e seus excrementos, de óleo de motor, de tudo o que se possa respirar. Os barulhos não cessam um só minuto: são tambores que soaram de momento em que chegamos até irmos dormir, são flautas desafinadas que os encantadores de serpentes não se cansam de soprar. As pessoas – à excessão dos turistas – são pobres e feias e tem cara de fome ou de psicopatia. As ruas são estreitas e iguais, ainda mais que aqui todas as construções são da mesma cor de telha. É um frenesi contínuo o entrar e sair, virar e seguir esquinas e ruas, um labirinto que faria inveja ao próprio Dédalo. Como disse: caos.
Depois que se habitua os sentidos a essa estranha realidade (parodiando meu caro Castañeda), as coisas não são tão ruins assim. É realmente interessante perceber como isso aqui é outra coisa. Tem que ter aquele olhar antropológico e buscar a alteridade. Parece uma mistura de África com Índia, em tudo o que há de melhor e de pior.
Bem, ao finalmente chegarmos ao nosso hostel, acertamos as coisas e voltamos para a praça, à procura desesperada de comida. Todos acharam pertinente experimentar as comidas típicas, já que estávamos aqui. Eu tive meus receios, mas topei. Decidimos por um restaurante razoavelzinho onde resolvemos pedir quatro pratos diferentes e experimentarmos todos um pouco de tudo. Algumas coisas eram boas, como o cuscus, outras não gostei, muito condimentadas, amarelas de açafrão e sei lá mais o que, como um tajine de alguma coisa. Apesar das diferenças entre os paladares, estávamos todos alimentados. Fomos então à melhor parte da viagem: pechinchas e compras! (Obs: éramos oito mulheres e dois homens andando em grupo...)
Lenços, bolsas, sapatos, laranjas, damascos, chaveiros, postais, doces típicos, mais lenços. Deve haver algumas centenas de barraquinhas aqui, sem exagero. Aprende-se logo que não existe comércio sem barganha ou pechincha. Todo o preço é redutível, na maioria das vezes até a metade. É um pouco engraçado manejar o dinheiro daqui, que vale bem menos que o euro. Troquei 50 euros no aeroporto e deu mais que 500 dihrans. Parece até que temos muito dinheiro! As coisas não são bem caras, se você souber negociar. Couro é bem barato. Os lenços são lindos, mas alguns são caros. Dá pra comprar uns bem bonitos por mais ou menos 5 euros, o que não é tão mau assim. Tem muuuita coisa falsificada, parece o Saara ou a 25 de Março. É Prada, Chanel, Louis Vuitton, Dior e tudo o mais. Mas as coisas daqui mesmo são bem mais legais... as bolsas de couro (de camelo?) adornadas com moedas locais, as sapatilhas pontudas à la Aladin, as pashminas brilhosas de todas as cores possíveis...
Enfim, depois de conhecermos o universo das compras, voltamos para o hotel, dispostos a encontrar algum pacote turístico baratinho pro dia seguinte. Conseguimos um a bom preço, 210 dirhans, ou seja, 21 euros. Depois de fecharmos o pacote, parte do grupo voltou para a medina para dar mais uma volta e pegar mais dinheiro e a outra parte foi ao mercado pegar uns lanchinhos para o dia seguinte, já que imaginamos que não seria muito fácil encontrarmos comida no meio do deserto. De volta ao hotel, era hora de tomar banho (para alguns, rsrs) e descansar, pois no dia seguinte acordaríamos bem cedo, às cinco, junto com a primeira reza dos muçulmanos.
Passado o susto dos sons entoados de forma desafinada no que parecia ser um megafone na hora da tal reza, levantamos, tomamos banho (novamente, alguns...) e fomos para o hotel central tomar “café da manhã”. Não se podia chamar bem de café da manhã, já que o que havia era chá, café, pão com cheiro de camelo e manteiga sem gosto. Ah, pelo menos o mel era bom... De qualquer forma, comemos tudo para “forrar o estômago” o máximo que pudéssemos.
Partimos então para uma van, onde estavam o motorista-guia Mustafah e um casal de suecos. No começo, tudo era festa e excitação, o que logo logo acabou quando percebemos quepão com gosto de cavalo e curvas não eram uma boa combinação. Muitas curvas, muito tempo, muita velocidade, muito enjôo. Cada cara parecia pior que a outra, todas pálidas, tristes, como se fossêmos botar tudo pra fora a qualquer momento, o que de fato aconteceu com duas das nossas tripulantes. Paramos algumas vezes na estrada para ver coisas interessantes e coisas não tão interessantes assim. O destino que todos almejavam era mesmo o tal do deserto, com direito a uma voltinha de camelo, então ver montanhas ou cactus ou plantações de oliveiras não estava nos animando tanto, ainda mais com o frio cruel que tínhamos que enfrentar cada vez que saíamos da van. Ah, mas a pior parte mesmo não era nem a náusea nem o frio, mas a música irritante que insistia em tocar. Gritos e gemidos desafinados acompanhados por uma flauta chata e uns tambores que davam dor de cabeça e agonia ao mais paciente dos mortais.
Após algumas horas de viagem, chegamos ao primeiro lugar realmente interessante – que, aliás, não sei o nome, assim como não sei o nome de nenhum outro lugar, porque não entendia absolutamente nada do que o guia falava – onde subimos a umas ruínas e vimos uma paisagem realmente bonita. Segundo o guia, foi ali que foram gravadas cenas do filme “Gladiador”. Havia umas lojinhas interessantes no caminho dessas ruínas, mas o guia sempre se irritava quando parávamos e demorávamos. Compreensível, já que havia nove mulheres e apenas dois homens, certamente submetidos às nossas volições consumistas.
Logo depois paramos novamente para almoçar (o que não fizemos, pois já havíamos “beliscado” coisinhas no ônibus) e depois seguimos para o tão esperado “deserto”, que não era bem um deserto, não tinha areia, nem dunas, nem oasis, nem miragens. Era mais um monte de pedra e paisagem árida, no meio do nada, onde três camelos magrelos e morgados descansavam do sol e do calor no meio de moscas e esquilos que vinham roubar umas nozes ou castanhas ou algo do tipo. Anyway, pagamos o equivalente a dois euros para subirmos, darmos uma voltinha e tirarmos umas fotos. Valeu a pena, pois não é todo dia que se sobe na garupa de um ruminante... Os bichos eram tão feios que chegavam a ser bonitinhos! Dei até um beijo num deles...
Depois das devidas fotos, seguimos pra a Hollywood marroquina, um lugar com diversos estúdios onde, segundo o guia, foram filmados filmes como “Cleópatra”, “Alexandre, o Grande”, “A Múmia” e praticamente todos os outros que tem como cenário o nada. Depois de pararmos por lá, era hora de voltar para Marraquexe, pegar toda a estrada e todas as curvas de novo, mas não sem antes darmos uma carona a dois espanhóis que tiveram problemas com o transporte em que estavam. Aperta aqui, encolhe ali, lá fomos nós. Desta vez, o guia estava ainda mais desvairado, acelerando nas curvas já ao anoitecer, para o desespero geral da nação. E a maldita música continuava, cada vez mais lata e mais irritante...
Felizmente, algumas horas depois voltamos ao centro, esfomeados e sujos, com aquela sensação de que já estava na hora de voltar para a nossa querida Lisboa. Fomos deixar as coisas no hotel e voltamos para comer. O segmento cool do grupo se aventurou a ingerir mais condimentos e comidas típicas fedorentas. Nós, os conservadores, fomos mesmo ao KFC, God bless America. Vale dizer que era um KFC, mas era em Marraquexe, ou seja, assepcia zero. Tudo bem, a esta altura do campeonato já não importava mais. Depois de comermos ainda fomos andar um pouquinho e encontrar o resto da galera, pra depois voltarmos para o hotel. Mas, ao chegarmos, nem fomos descansar, como era de se esperar. Fomos para o terraço, primeiro um pequeno grupo, um trio na verdade, eu, Sarah e Marina, mas logo depois vieram todos e ficamos algum tempo lá, encolhidos sob as cobertas, conversando sobre essas coisas que sempre se conversa quando se está no meio de amigos em Marraquexe: "pegações", música, coisas nojentas e quem se lembrava da morte de personalidades, de Senna a Claudinho e Buchecha (não sei qual dos dois), passando por Michael Jackson e Lady Di.
Depois de um tempo, o frio e o sono nos obrigaram a entrar e ir para a cama. Fomos e desta vez o cansaço era tanto que, pelo menos eu, nem ouvi a mesquita chamar seus fiéis. Acordamos um pouco mais tarde, umas oito e tal, para tomarmos banho (desta vez, havia shampoo!!!) e tomar o café da manhã, o que eu, pessoalmente, não estava nem um pouco ansiosa para fazer. Era a mesma coisa: pão de camelo, mel, manteiga sem gosto, chá ou café. Tomei um suco que compramos no mercado e comi um pouco de pão com mel. Resolvi deixar pra comer melhor na rua, o que, na verdade, só acabei fazendo no aeroporto.
Fomos mais um vez para a praça com as barraquinhas, com a intenção de gastarmos nossos últimos dirhans. Mal sabia eu que, ao invés de gastar o que restou e pronto, ainda tive que ir ao banco sacar mais quatrocentos “dinheiros” (era assim que a gente chamava a moeda), porque vi uma mala de viagem incrível de couro marrom, super chic, que resolvi comprar para o Marcelo (e, caso ele não goste, fica pra mim mesmo, porque a mala é i-n-c-r-í-v-e-l!
Depois de mais umas comprinhas, voltamos para pegar as malas no hotel e ir para o aeroporto. Claro que nós, mais uma vez, quase nos atrasamos para o avião, porque sumiu o iPod da Bruna. Complicações à parte, chegamos ao aeroporto e ainda deu tempo de comer uma tortilla e um croissant de chocolate. O vôo de volta foi ótimo, parte porque foi rápido mesmo, parte porque o avião não estava tão cheio, mas ainda acho que pesou o fato de estarmos, finalmente, voando de volta para “casa”.
Juro que o ar do Porto, ao desambarcarmos, era muito mais puro do que o de Marraquexe. Era como beber um copo d’água bem geladinho quando se tem muita sede. Nossos pulmões se sentiam sujos e sedentos de ar, e ao primeiro inspirar pareceu que tudo se limpou e satisfez. Talvez eu esteja exagerando, mas pareceu o ar mais puro e cheiroso que já respirei. Dava até pra sentir o cheiro do mar... No aeroporto, o rebanho se separou e eu, Sarah e Gui fomos pegar o metro para ir até a estação de comboios e voltar para Lisboa e o resto do grupo, Paula, Bruna, Juliana e Estela ficaram por lá, pois iam para a night no Porto.
Quando chegamos à estação, ainda faltava mais de um hora para a partida do nosso trem, então fomos fazer mais um boquinha (sim, a gente come!) e esperar o tempo passar. No momento, estamos dentro do Comboio, parados em Coimbra, a caminho de Lisboa. Espero que cheguemos dentro de mais ou menos duas horas, lá pelas 22h...
Bem, considerações finais, apesar deste post gigantesco falando mal de diversas coisas da viagem, ao contrário do que se possa pensar, eu realmente gostei da viagem. É incrível estar submerso em uma cultura completamente distinta da nossa. Eu pude ver como aquelas pessoas vivem e como o que é normal para elas causa tanto espanto entre a gente. Teria me arrependido se não tivesse ido. Valeu tudo a pena. As compras, as vistas, as pessoas, os camelos, o pseudo-francês misturado com inglês e português que tínhamos que falar com os nativos, já que não falávamos nada de árabe nem ber bere. Mas, como disse, já era hora de voltar. Foi curioso ir de Milão a Marraquexe no intervalo de uma semana. As vitrines impecáveis e reluzentes das grifes versus as tendas manchadas e rasgadas das barracas das feiras. Os salto-altos de sola vermelha Loubutin contrastando com as sapatilhas abertas, surradas, pontiagudas, de sola baixa, quase que uma folha de papel entre os pés sujos e o chão, mais sujo ainda. Mas eu vi beleza nos dois e acho que isso é o que importa. Gostei muito de ter passado por essa experiência (talvez sem a parte das curvas e da náusea) e acho que faria algo parecido, ir para a Índia ou o Egito ou outros lugares assim. Só por uns dias, claro...
Nosso próximo destino seria Londres, e digo no futuro do pretérito pois não sabemos mais se vamos, apesar de termos as passagens compradas. Parece que tem um esquema especial para entrar no Reino Unido que foge às regras aduaneiras da EU. Como nosso visto só nos permite duas entradas (por enquanto, pois em dezembro pegaremos a residência, yay!) – Portugal contou a primeira e países que não façam parte da EU, como o Marrocos, contam também – estamos com medo de irmos até Londres e ficarmos na porta. Mas nada é certo ainda, pode ser que o pessoal arrisque ir, pode ser que não... estou mais inclinada a deixar pra próxima, afinal foram só 38 euros a passagem...
Mas não se desesperem, caso eu não vá, continuo postando coisas aqui, sobre Portugal mesmo, ou sobre a próxima viagem, cujo destino ainda é desconhecido. Rumor has it que alugaremos um carro para dirigir a Europa toda, até onde o dinheiro para a gasolina der. Mas estes são planos futuros, para depois das aulas acabarem... até lá, tenho alguns destinos (e algumas companhias brasileiras!) em mente... mas estas são cenas dos próximos capítulos...
Então...beslama!

Ciao, bella!


Mal voltamos da Espanha, já era hora de partir para a Itália. Minha bela Itália, ah!, que sonho! (Vô Nicolino ficaria feliz...)
O caminho a percorrer era longo, primeiro tínhamos que ir de Lisboa a Porto (quase 4 horas de ônibus), depois da estação de Porto até o aeroporto (mais pelo menos meia hora), de lá pegaríamos um avião para Bergamo (2 horas e 40min), de Bergamo para Milão, outro ônibus (1 hora) e pronto, chegamos.
Tudo correu bem na ida, chegamos ao hotel perto de meia noite, deixamos a bagagem e fomos caçar alguma coisa para comer. Um friiiio... seis graus, a cidade parada, quinta feira de madrugada, nada estava vivo. Encontramos, finalmente, uma lanchonete turco-italiana que vendia pizza e kebab. Optamos pelo kebab, que estava com cara melhor, junto com batatas fritas (o pão nosso de cada dia) e coca-cola. A princípio, ninguém se entendia. O turco não falava inglês, nós não falávamos italiano. No final, deu tudo certo, fomos misturando um português com sotaque italiano com palavras básicas do inglês. Eu ainda arrisquei umas palavras em turco – que aprendi com meus amigos turcos de Lisboa – mas não passou de “oi, tudo bem, como vai”. Ok, pedida a comida, sentamos, só tinha a gente, eu, Bruna, Paula e Gui. (Siiiim, o Gui foi pra Milão com 3 mulheres! Tadinho... logo Milão, com todas as lojas que, como sereias, parecem cantar e encantar a gente, fazendo-se impossível não entrar.) Enfim, pelo meio da refeição, entram 4 caras mucho locos falando um inglês engraçado e rindo de tudo. Quatro suecos bêbados, mas muito divertidos! Foram para Milão para fazer auditoria em um congresso e, àquela altura, não sabiam pra que lado ficava o hotel. Um deles comprou um megafone para gravar insultos de estrangeiros em todas as línguas possíveis e pediu pra gente xingar algo em português. Como somos todos tímidos e polidos, não o fizemos, claro. E ele, claro também, começou a apurrinhar falando coisas incompreensíveis no tal megafone, perturbando a paz pública. Mas tudo bem, foi divertido. Um deles era casado com uma espanhola e começou a falar em espanhol com a gente quando soube que éramos brasileiros. Eu ainda peguei meu prhasebook que contém utilidades em 14 línguas, procurei a parte sueca e arrisquei umas palavras. Moral da história: a certo ponto, estando há menos de 2 horas em Milão, já havíamos falado português, inglês, turco, italiano, espanhol e agora sueco. Adoro a globalização!
Voltamos para o hotel para descançar um pouquinho e acordar cedo no dia seguinte. Assim o fizemos, com algum protesto pois a cama estava quentinha e confortável, mas acabamos combatendo a preguiça e saímos logo. Paramos para tomar café numa padaria espetacular, onde comi um panini divino (pão de azeitona – a melhor massa de pão que já comi – com salame e mais alguma coisa) pela miséria de 1 euro! Seguimos para o centro, parando em algumas lojas pelo caminho, como era de se esperar. A certo ponto chegamos a uma avenida só de grifes... babei: Dior, Prada, Louis Vuitton, Gucci e cia ltda. O mais engraçado é que, ao final de todo esse luxo, dava pra ver, na esquina da avenida, o Duomo, a Catedral de Milão.
Inimaginável, indescritível. Não dá pra expressar em palavras ou fotos, tem que se estar lá. A catedral é fantástica, compete com a de Compostela. Sem dúvida, é o que há de mais belo em Milão. Aliás, Milão é legal, mas tirando as lojas e a Catedral, não tem mais nada demais, à exceção de alguns museus interessantíssimos no Castello Sforzesco. Voltando à catedral, passamos um tempo lá dentro, apreciando sua beleza inenarrável. Depois, lembramos que precisávamos comer! Mc Donalds, pra que te quero. Pra mim, dois cheesburguers, dois milkshakes (um de fragola, um de ciocolatto) e uma patatine picolo. Cada coisa custa um euro, então, com cinco, fizemos um banquete! “Comi demais”, foi o que pensei pelo resto da tarde. Continuamos andando pela cidade, descobrindo lugarezinhos interessantes, mas logo logo escureceu, pelas cinco da tarde, e resolvemos voltar cedo para o hotel, passando antes pela estação central, para comprarmos passagens de trem para Gênova para a manhã seguinte.
Depois de uma banho pelando e um descanço de umas horinhas, saímoos, eu e Guilherme, em busca de um orelhão para falarmos com nossos amados do outro hemisfério. Na volta para o hotel, passamos por uma pizzaria. Levamos uma de volta para o hotel e comemos todos juntos. Claro que uma não foi suficiente, então o Guilherme voltou e comprou outra. Que delícia... a massa era deliciosa, o queijo também... tudo era divino!
Dormimos assistindo tv e no dia seguinte levantamos cedo para ir pegar o trem. Apesar de não acharmos a plataforma e entrarmos no trem faltando dois minutos para ele partir (aliás, isso aconteceu no avião de ida e volta também!), no final, entre mortos e feridos, deu tudo certo. Duas horas depois, estávamos em Gênova! Que cidade linda... uma gracinha mesmo, construída em níveis, uma camada em cima da outra, de frente pro mar. Não estava tão frio quanto em Milão, graças a Deus. Passamos o dia todo andando pela cidade (aliás, o que mais fizemos nessa viagem foi andar), parando no Mc Donalds de vez em quando para recarregar as energias. Andamos, andamos, andamos, começou a chover, começamos e cançar, Bruna começou a ter enxaqueca, então voltamos para a estação. A errada, a princípio. Mas depois fomos para a certa, de táxi. Aviso aos navegantes: táxi, na Itália, é caro pra c...! Minha amiga pegou um táxi de Roma (centro) ao aeroporto e pagou quase 100 euros. Outra conhecida correu 10 minutos pela cidade e pagou 60. Nós o pegamos por menos de 3 quilômetros e pagamos mais de 10. Enfim, chegamos à estação certa, adquirimos os bilhetes e esperamos até a hora de embarcar, não sem antes comer um croissant de chocolate!
De volta a Milão, fomos ao restaurante onde havíamos comprado a pizza na noite anterior, dessa vez para uma pasta italiana! A galera comeu carbonara, eu, gnocchi ao pesto. Ainda pedimos um prato de camarão, lula e peixe fritos. E foccacia, claro! De pança cheia e aquecidos, voltamos ao hotel. A manhã seguinte seria nossa última pela cidade. Acordamos pelas nove e fomos dar mais uma volta, tentar chegar até o castelo que não conseguimos ver nos dias anteriores. E lá fomos, debaixo de chuva. O castelo era bonito, mas lindos mesmo eram os museus do castelo. Diversas exposições, cada uma mais linda que a outra. Prevendo que nos desencontraríamos, até porque eu era a única historiadora dali, ou seja, a única que realmente fica horas babando nos quadros, olhando tudo nos mínimos detalhes, combinei com os outros três de nos encontrarmos em tal lugar caso nos separássemos. Como se fosse profecia, é claro que nos separamos. Assim que eu percebi que não estávamos mais no mesmo museu (eram vários), desci para o ponto de encontro. Ninguém estava lá. Fiquei mais um pouco, andei para a entrada para ver se estavam por lá, voltei para o ponto de encontro e nada. Vale ressaltar que ninguém tinha telefone e que em menos de duas horas tínhamos que estar dentro do ônibus de vola para Bergamo. Pensei, depois de esperar mais uma meia hora: “devem ter ido para o hotel e estão me esperando lá, pois estamos em cima da hora e essa seria a coisa mais lógica a fazer”. Peguei então um metro e fui para o hotel. Chegando lá, vi que as malas ainda estavam na recepção, ou seja, eles não haviam chegado. Era uma e meia da tarde e nosso ônibus era às duas! Troquei algumas palavras com a recepcionista/dona do hotel e ela disse que eles realmente não haviam passado por lá. Esperei mais quinze minutos e decidi que eu iria embora sem eles, pois não podia perder meu vôo. “Pqp, eu fiquei com todas as passagens de avião de todo mundo e os tickets do ônibus também! Se eu for embora sem eles, eles vão me matar!” Por inspiração divina, me veio a brilhante idéia de deixar um bilhete com as passagens na recepção, afinal, eles teriam que voltar para o hotel para buscarem suas coisas de qualquer maneira. Deixei lá tudo, parti sozinha e preocupada (com eles, não comigo) para mais uns cheesburgeres no Mc Donalds e fui para o ônibus. Resolvi pegar o de 14:30h, sendo que demoraria uma hora até o aeroporto e nosso portão fechava às 16:35. Ou seja, o horário era apertado e o ônibus de 14:30h era o último que tínhamos que pegar, se não quiséssemos perder nosso aviãzinho.
Esperei até o último minuto, desisti, entrei logo no ônibus, convencida de que voltaria para Lisboa sozinha. Mais uma vez, faltando dois minutos para o ônibus sair, com o motor já ligado, vejo os três chegando esbaforidos. “Eu vou matar vocês!” Acabou que, quando eles perceberam que havíamos nos separado no castelo, resolveram continuar olhando as exposições me procurando e só desceram para o ponto de encontro uma hora depois de mim, pouco depois de eu já ter ido embora. Chegaram no hotel mais de duas da tarde e foram correndo para a estação.
Enfim, conseguimos chegar ao aeroporto a tempo e voltar são e slavos. Nosso vôo foi razoável, falamos besteiras a viagem inteira pra passar o tempo e demoramos muito pra chegar à estação que precisávamos para pegar o ônibus, depois que saímos do avião. Viajar é ótimo, mas cansa, especialmente os trajetos e as horas e mais horas perdidas em locomoção. Já havíamos passado 16 horas sentados em transportes num período de três dias e ainda havia mais pelo menos quatro até Lisboa. Estas quatro foram, sem dúvidas, as mais cansativas. Vim sentada ao lado de uma pessoa insuportável que falou no telemóvel as exatas quatro horas da viagem, sem desligar. Tudo bem que a vida dela até que era interessante, mas eu realmente queria paz. Além disso, o ônibus fazia algumas paragens que demoravam e ainda tivemos que passar por uma revista, não sei bem porque, mas que nos prendeu ali por alguns longos minutos...
Chegamos, finalmente, a Lisboa faltando dois minutos para fechar o Metro. Ainda pensei que tivesse perdido meu passe e tive que “pular a roleta” (não é bem isso que se faz, mas o sentido é o mesmo). Depois achei o passe, graças a Deus. Fui pra casa morta e ainda debaixo de chuva. Quando pensei que poderia finalemnete descansar, lembrei de um trabalho que teria que ser entregue impreterivelmente até o dia seguinte, e lá fui eu ler a historiografia francesa do século XX e fontes portuguesas e brasileiras do século XVI. Já eram mais de três quando o sono me venceu e decidi dormir um pouco até as sete pra depois acordar e estudar de novo. No final deu tudo certo, li tudo, escrevi, acabei o trabalho e, honestamente, até achei que ficou bom! Descansei mais um pouco durante o dia e de tarde fui com minhas amigas ao shopping, ver um filme (Ah, não! De novo tu!), comer, jogar no playcenter (sim, eu sou crian ça) e, no final do dia, beber uma cerveja.
Mais uma viagem, mais cultura, mais novidade. Está sendo incrível passar por isso tudo aqui, ver tanta coisa, conviver com tanta gente. Eu realmente me sinto muito próxima das pessoas com quem tenho andado, como se fôssemos todos amigos de décadas... galera, minhas viagens não seriam a mesma coisa sem vocês! Obrigada pelo companherismo e pela paciência... já temos mais duas planejadas, mas isso é só o começo! O céu (ou o visa travel money) é o limite! Vamos? Vamos!
Brasileiros, mando mais notícias diretamente do continente africano... Próxima parada: Marraquexe. Muita curiosidade, muitas expectativas... Até breve! Arrivederci!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Heil Ratzinger!

Quinta à noite: "A gente bem que podia alugar um carro e ir para a Espanha, hein?" "É, podia sim, mas quando?" "Sei lá, semana que vem a gente vai pra Itália, depois pro Marrocos, depois pra Inglaterra... tá meio complicado..." "Ah, só se a gente fosse esse fim de semana" "Mas cara, esse fim de semana já é amanhã!" "Eu sei! E daí?"

Foi assim que começou nossa viagem; Um carro, cinco pessoas, dois mil quilômetros em 48 horas. Saímos de Lisboa na sexta à noite com destino a Santiago de Compostela, Galícia, Espanha. Chegamos por lá de manhãzinha, um frio de doer os ossos. Pela cidade, percebemos que desde muito cedo havia grupos de pessoas nas ruas e muita polícia. Não fazíamos idéia da possível razão...
Até que um dos tripulantes dessa odisséia disse: "Hey, eu bem acho que ouvi dizer que o Papa ia vir pra cá por esses dias... acho que semana que vem ou algo assim..."

Nós, inadvertidamente, fomos ao encontro do Papa. Nenhum de nós sabia que estaria prestes a participar de um momento histórico. Pra falar a verdade, ficamos duvidando disso por um bom tempo... C'mon, quais são as chances?!?!

Ficamos em Compostela um pouco mais, mas depois decidimos navegar para outro lugar, pois a cidade estava um tanto intransitável e nós não pudemos entrar na majestosa catedral (de longe, o melhor programa para se fazer na Galícia).

Resolvemos dirigir mais seiscentos e tal quilômetros e ir para Madrid! No caminho, paramos em Monterrei, uma cidadezinha medieval incrível com um castelo lindo e uma paisagem de tirar o fôlego... coisa de filme!

Chegamos em Madrid já de noite, encontramos uma pensão pra dormir e uma paella pra comer. Não precisávamos de mais nada. Fomos, então, conhecer um pouco da cidade. Andamos pelo centro, mas voltamos logo, porque, além do frio, combinamos de acordar às 7h no dia seguinte. E assim foi. Acordamos mesmo cedo, fomos tomar café da manhã (delicioso, diga-se de passagem) e partimos em busca dos pontos turísticos, tantos quantos fosse possível visitarmos em mais ou menos 6 horas.

Fomos a vários lugares legais: Catedral de Almudena, Palácio Real, Palácio de Cristal (dentro de um parque magnífico!), Plaza Mayor, Plaza de Espanã, Puerta del Sol e, de quebra, ainda passamos em frente ao estádio do Real Madrid. Descobrimos que ia rolar o EMA da MTV na cidade aquela noite e que a entrada era de graça! Pensamos seriamente em ficar mais uma noite, mas depois deixamos pra lá, a final todos tinham aulas na segunda (menos o Guilherme, que é fanfarrão) e também teríamos que pagar multa na devolução do carro, coisa que ninguém queria, principalmente de termos gastado mais de 100 euros só de pedágio pelas estradas, sem contar lembracinhas, camisetas, comida etc. Quase fomos à falência, mas teríamos ido sorrindo! Valeu tudo a pena!

Última paragem de Madrid: Burger King pra encher a pança e cair na estrada! Entrei no carro e dormi debaixo da minha mantinha... já tinha ficado acordada a noite anterior inteira, tava na minha vez de descansar... Acordei umas três horas depois quando o carro parou pra abastecer. Aproveitamos e fomos tomar um café no bar da Harley Davidson que tinha ali (o máximo) e ainda ganhamos 10 euros numa slot machine!!!

Back on the road, continuamos seguindo para Lisboa ao som de três mocinhas desafinadas para o desgosto dos meninos... Depois de deixarmos as coisas em nossas respectivas residências, fomos devolver o carro no aeroporto, por volta das onze da noite.

Depois que entregamos as chaves e saímos do aeroporto tivemos aquela sensação de "ahh, que fim de semana incrível... pena que acabou", mas só por alguns segundos pois alguém (Bruna) teve a brilhante idéia de irmos beber os dez euros que ganhamos! "Vamos pro Bairro Alto, galera?" Não precisou perguntar duas vezes... 2 shots de tequila e pipoca pra todo mundo! Nosso fim de semana só acabaria na segunda!

Hoje voltamos à realidade, que pra gente não tem esse peso de "voltar para a realidade", já que a nossa realidade é se divertir em Lisboa! O pessoal vem pra cá daqui a pouco pois temos que fazer contas e fazer nossas reservas em Milão, para onde vamos nesta quinta! Parece que depois ainda vai rolar uma peça de teatro, mas essa acho que vou passar... tenho milhões de coisas pra ler e escrever! Não é mole ser estudante na Europa... não pelo nível, que é bem inferior ao Brasil, mas pela quantidade de coisas que tem pra te distrair e fazer com que vc deixe tudo para a última hora! Rsrs.

Bem, fico por aqui, com mais essa experiência.
Escrevo de novo em breve, provavelmente de Milão, ou Marraquexe, ou Londres...
Vida chata essa... ai ai...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Navegar é preciso...

Nunca sei bem qual vocativo evocar quando começo um post aqui... Não é "todo mundo", nem "amigos", nem "pessoal". Acho que devo evocar a mim mesma, já que criei isso aqui pra eu mesma ler. É uma coisa meio reflexiva, eu escrevo e eu leio, sou sujeito e objeto da minha arte (nossa, baixou Heidegger aqui agora!)
Bem, já vi que essa coisa de ficar dando dicas não rende comentário, então vamos falar sobre outra(s) coisa(s).
Tudo certo aqui por Lisboa, só mais do mesmo. Faculdade, festas, livros, bebidas. É sempre isso.

Pra quebrar um pouco essa não tão monótona monotonia, este mês começo a viajar. É engraçado que, quando digo que vou a algum lugar, tanto os estrangeiros quanto os próprios nativos dizem "ah, vc vai pra Europa?", como se Portugal não fosse Europa. Mas sim, vou para a Europa! Tenho três passagens para esse mês: Milão, Marraquexe, Londres, nessa ordem. Mês que vem: Madrid, Barcelona, Roma, Veneza, Paris no Natal. Estou pensando em passar o ano novo em Praga, mas ainda não tenho certeza. Janeiro ainda está pendente, pois tem que ser uma decisão a dois. Estou inclinada a ficar pelo leste, Viena, Budapeste, esses lugares. Será que o Marcelo topa?
Enfim, dado o itinerário detalhada e inutilmente, estou bastante animada. Fiquei um pouco chateada por saber que o Duomo di Milano - a catedral de Milão - está em obra. Este realmente era o lugar que eu mais queria ir por lá. (Não, não foi nem a Prada nem a Gucci que me fez querer ir para Milão, foi a História mesmo, juro...)
Ainda assim, tenho certeza que vou me divertir. Certamente postarei minhas aventuras e peripécias aqui, pode deixar. Aliás, falando em peripécia (no termo da poesia e da tragédia) e lembrando das aulas de Literatura Grega, vale a pena conferir a Poética de Aristóteles. Fica a dica.

Voltando e pedindo desculpa pelas interrupções da narrativa - acho que de tanto ler a Ilíada estou começando a abraçar essa coisa de demora épica, eheheh - postarei novidades quando voltar da Itália.

Sei que não tenho escrito muito aqui e a culpa é da infinitude de coisas que há para se fazer em Lisboa. Agora mesmo estou procrastinando minhas responsabilidades: tenho que ir para a faculdade apresentar oralmente alguns cantos da epopéia homérica e da virgiliana. Coisas de nerd, sabe? Adoro!

Hoje, depois das aulas, vamos comemorar o aniversário de um amigo no Bacalhoeiro. Outra dica: Bacalhoeiro é O lugar para se ir em Lisboa! Música ao vivo (hoje é Jazz - a gente sempre vai pra ouvir Jazz), cerveja barata e um crepe de comer rezando! As pessoas são sempre legais por lá, é um público meio alternativo, um pessoal mais tranquilo, que foge daquelas noitadas típicas dos erasmus em que se dança até o chão com alguém que nunca se viu, se sobe no palco e se contrai uma leve amnésia alcóolica. Prefiro o Bacalhoeiro (pelo menos hoje...eheheh).

Até!