domingo, 27 de fevereiro de 2011

Hoje faz uma semana que deixei Lisboa. Parece muito mais. Mas espere, deixe eu me desculpar antes... Tenho alguns muitos textos semi-escritos, nenhum acabado, sobre outras viagens que fiz e sobre tudo o que pude resumir sobre o que é viver na Europa. Mas não publiquei nada, eu sei. Aliás, faz tempo que não consigo publicar... não consigo terminar os textos, não me dão vontade de escrever... E enquanto estava lá, também faltava tempo pra isso. Tempo e vontade. Mas agora senti essa vontade de novo. Acho que preciso. Pretendo, um dia, se possível, em breve, terminar o que já escrevi e postar tudo aqui. Mas agora quero mesmo é falar dessa transição absurda pela qual passei e ainda passo.

Como estava dizendo, há uma semana saí de Lisboa, minha cidade mais que amada, mais minha do que a minha prórpia. Não é segredo a ninguém que eu não queria muito vir. Mas a vida é a vida e não é feita só de quereres. Precisava voltar... Quer dizer, hoje questiono se precisava mesmo, se não dava pra ter ficado mais, mas tinha realmente coisas a fazer aqui. Bem, já cá estou, então deixe estar.
Cheguei e achei tudo feio e triste. Acho que o que senti – e ainda sinto – vai muito além da tal “depressão pós-trip” que as pessoas falam. É uma tristeza genuína e uma angústia de voltar. Desde a tarde em que cheguei deixei claro para todos que já estava de saída. Tracei todos os meus planos para obter o mais rápido possível meios de estar lá de volta logo. Passei a escutar cada tique do relógio, a cada segundo, só para saber que a cada instante faltava menos para o momento de sair daqui. É um pouco neurótico, eu sei.

Fiquei mais triste por perceber que será, no mínimo, trabalhoso eu voltar como quero. Nessas horas, o tempo não passa. Todo o esperar parece muito. Minha ansiedade e angústia só se reforçaram a cada hora que passava. Estava mesmo sofrendo, mais do que devia, eu acho. Cheguei ao ponto de ver preços de passagens para voltar no dia seguinte – utopia minha, claro.

É que essa ansiedade vem de uma sensação muito estranha mas muito genuína, é uma certeza do que se tem que fazer que parece mesmo vir das entranhas, rasgando, dá pra sentir essa urgência no corpo todo. É estranho não saber de nada, muito menos do que vai acontecer no futuro, mas se ter certeza do que deve ser feito. Acho que nunca tinha sentido isso na vida, não tão forte.

Fico triste de saber que essa minha vontade inabalável de voltar deixa pessoas queridas tristes... Eu vejo que quem me esperava agora sofre em dobro por saber que cheguei, mas que estou voltando. É ter esperado esse tempo todo pra agora ter que se despedir de novo... Sinto muito mesmo, principalmente porque quem se aborrece com isso é quem eu mais quero ver bem. Mas mesmo que eu me sinta mal, essa certeza do que devo fazer transpassa e supera tudo. É que é mesmo uma coisa necessária, urgente, um insight daqueles que nos faz passar a vida tentando decifrar seu significado.

Todos os dias só pensava em voltar e minha ansiedade ia crescendo, crescendo (me absorvendo... rs). Percebi que enlouqueceria brevemente. Tenho tentado me acalmar. A corrida na praia todo dia até meia-noite ajuda, não sei bem o por quê. É curioso que existe aqui um ônibus (que, aliás, eu nunca tinha visto antes) de uma empresa chamda Braso Lisboa e que, por capricho do Universo, sempre passa por mim quando estou correndo e pensando em Lix. Interpretei o tal ônibus como um sinal. Quer dizer que essa conexão dos trópicos com o velho continente não é tão distante assim. Será? Gosto de pensar que sim... Quando vejo a Lua, tenho a mesma sensação...

Faço coisas, leio o livro do Chico, não o “Leite Derramado”, que comecei a ler lá, num sofá, num lugar, encostada em alguém, mas o “Budapeste”, que só por ser do Chico já me transporta um pouco pra Lisboa. Ouço músicas que ouvia lá, falo com as mesmas pessoas. Rabsico no meu moleskine, como se nada tivesse mudado. Ouço o CD de fado novo que ganhei de presente de pessoa tão especial. Tento me acalmar por meio dessa memória, busco incessantemente a manutenção do momento que já foi. Não quero o afastamento, quero passar todos os dias que ainda tenho que passar aqui de alguma forma ligada a Lisboa. Quero não esquecer, não perder a ansiedade, quero essa loucura de seguir os impulsos. É uma pressa muito intensa, preciso manter o tinha, morro de medo de chegar e , passados os meses, tudo ter mudado. É uma urgência metafísica, ou melhor, é uma urgência quântica. Preciso controlar o tempo. Congelar as pessoas. Ter tudo igual, pois que tudo era mesmo perfeito. Não quero perder isso. Quero continuar querendo. Por isso, por um lado, não quero me acalmar. Quero a angústia que me motiva. Quero ser impulsiva e passional até o fim. E seja o que Deus quiser...

Entretanto, para que o convívio comigo mesma se torne ao menos suportável, resta-me uma busca por paz e tranquilidade. Quero que comecem logo as aulas e o trabalho para os dias ficarem cheios e passarem mais rápido. Quero fazer tudo o que quero fazer e saber que, com isso, poderei fazer o que quero. Sei que posso. Sei que é só uma questão de tempo e disciplina. Acho que o lado bom dessa angústia incontrolável é que nunca me senti tão motivada e tão propensa ao sacrifício. Estou disposta a seguir com garra mesmo quando estiver cansada, como faço quando estou correndo. Parece que corro em direção a Lisboa, então abraço a dor e o cansaço com a minha alma e me alimento deles. Sei que serão meses de trabalho duro – ainda mais se comparados com os últimos seis meses -, mas estou mesmo disposta a dar tudo de mim, pois sei que no final estarei exatamente onde quero estar. E essa é a recompensa maior, é o meu Jardim do Éden.

Tem uma coisa engraçada que acontece. Não sei se é porque faz pouco tempo ou porque minha alma está realmente lá, mas ainda não separo muito bem os lugares. Às vezes parece mesmo que ainda estou andando pelas ruas da Baixa. Parece que vou virar a esquina e ver a bela Sé, ou seguir até a Rua da Adiça. Se fechar os olhos, consigo me sentir dentro do quarto de tom avermelhado. Sinto que a qualquer momento vou ligar para as meninas e iremos dar uma volta pelo Rossio e parar no Mc Donalds. Depois, passaremos no Bacalhoeiro e tomaremos uma cerveja. E tudo continuará o mesmo. É sério, é mesmo engraçado isso. Parece que sou duas e que eu – ou parte de mim – está mesmo lá, congelada no momento. Vai ver ficou parte minha lá mesmo, e essa parte me falta.

Sinto mesmo falta das coisas. Não é exatamente essa tal “saudade” que só na nossa língua existe, mas é mesmo uma falta quase física de algo que nos pertence e que não está. Ficaram pedaços de mim na Alfama, à beira do Tejo, no acordar às cinco da tarde e respirar Lisboa, em andar de pijama até o mercado da estação de Santa Apolônia. Me faltam as pessoas. Me faltam as ruas com suas subidas e descidas. Me falta a paixão. Sinto falta das músicas, das escadas, da poesia. Em cada dessas coisas ficaram alguns fragmentos de Ana, como fragmentos de luz que se dispersam num vitral. E agora sei que preciso estar lá para juntar os meus caquinhos de luz e fazê-los raio de novo.

Lisboa me surpreendeu. É mesmo o meu lugar, de todos os lugares do mundo. É onde estou. Parece que me fundi com cada esquina da cidade e já não há mais separação entre o meu corpo e o espaço. Fazemos parte uma da outra e caminhamos juntas, nos carregando.

Peço que o tom melancólico seja perdoado, posto que é verdadeiro. Mas até nesse sofrer há beleza. A beleza de ter encontrado algo que lhe preencha, algo para o qual voltar. Algo que derrube todas as construções e descontrua todos os castelos. É romper com o mundo e queimar os navios, mas fazer isso tendo a certeza de que se está fazendo o certo. É querer esse desmoronar de tudo o que se tinha antes mais que tudo. É a consciência de que algo de muito bom virá, mesmo que, no começo, essa destrução de tudo pareça o caos.

De toda essa ânsia, busco aprender algo. Tenho tido tempo de refletir e acho que cheguei a uma conclusão. Deixo então meu conselho para todas as pessoas e espero verdadeiramente que, pelo menos uma vez na vida, todas elas possam compartilhar disso. Eis que é isto: É preciso apaixonar-se. Por um estudo, por um livro, por uma escrita, por uma cidade, por uma rua, por uma vida, por uma alma, por um corpo, por um quarto, por uma comida, por um supermercado. Mas apaixonar-se por completo, deixar de ser o que se era e virar um mero portador, um receptáculo dessa paixão. Deixar transbordá-la e dar lugar para que ela seja agora todo o seu ser. A angústia e a ânsia que vêm com essa catarse são mesmo quase insuportáveis, mas tudo é compensado pela sensação de se estar vivo, de ter motivos, de querer e buscar algo do fundo da alma, de se ter a certeza. Há, para isso, que se deixar de lado a covardia que tão frequentemete toma conta de nós. Há de se esquecer que o risco da queda é grande, e pular mesmo assim. Esquecer-se que nunca vamos saber mesmo se algo vai ou não dar certo. É preciso sairmos daquela zona de conforto onde a vida que se tem nos parace muito mais fácil. Tem de se estar disposto a viver com a vontade de cada dia, esquecendo que a vontade de amanhã pode ser diferente. Não importa. Mudar não é tão mal assim. Penso que seja daí que venham as coisas e sensações mais verdadeiramente maravilhosas da vida.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Confissões parisienses...

Eu sempre achei uma baboseira essa coisa de dizerem que só se é feliz acompanhado. Dizer que amigos e família são tudo na nossa vida... achava mesmo tudo isso muito chato. Pensava "bom mesmo é ser livre, viajar o mundo, conhecer pessoas e logo depois dizer adeus para elas, sem dor, sem nós nos laços, trocar experiências e caminhar sempre mais um pouco, não parar nunca". Dizia que não tinha o que as pessoas chamam de "raízes", nem com meu país, nem com meus melhores amigos, nem com minha família, nem mesmo com alguém que eu tinha escolhido para passar o resto da vida junto. Nada poderia me "prender" ou me impedir de aproveitar alguma oportunidade de descobrir coisas novas, de aprender, viver.
Pensava que dedicar o tempo à leituras intermináveis, saber e conhecer o máximo possível, isso sim era ser feliz e realizado. Só queria isso, conhecimento. O resto é descartável, é apêndice...
A imagem de um velhinho em seu escritório, sozinho, rodeado de livros incríveis, todos há muito já lidos, com suas memórias de cada lugarzinho escondido no mundo, cada gosto de cada atmosfera já habitada, gostos do mundo inteiro... essa era a minha idéia de felicidade. Estudar, viajar, conhecer, ver, experimentar, saber. Teria coisa melhor? Sempre que eu ouvia alguém dizer "eu não sou nada sem meus amigos" ou "eu não saberia viver longe da minha mãe" eu dava um risinho sarcástico e pensava estar num nível superior a eles, porque eu não precisava de nada disso...
Tanto é que virei as costas pro Pão de Açúcar, fiz as malas e parti pra cá. A excitação da novidade, as pessoas tão interessantes, os lugares que os olhos vêem... é tudo incrível e tudo prova(ria) minha teoria: o bom da vida é isso mesmo, viajar, conhecimento!
Por isso, até decidi ficar mais tempo aqui, decidi não voltar para o Brasil por enquanto, mas continuar experimentando o sabor exótico de estar em contato com coisas novas a cada dia.

Continuo afirmando convicta e veementemente que viajar é uma das melhores coisas da vida, se não a melhor. Mas essa história de ser ermitão, sozinho no mundo consigo mesmo, sendo livre para ir e vir quando e onde der na telha não está com nada.
Precisou eu estar numa das cidades mais belas do mundo, numa das datas mais comemoráveis, para perceber que o homem é de fato, em essência, um animal social (como já previu há tanto tempo meu querido Aristóteles).
Estou em Paris, dia 31 de dezembro, momentos antes da virada do ano, data que sempre foi meu feriado favorito. Da minha varanda, vejo as luzes da Cidade Luz, sentindo na pele o vento frio que faz com que o zero grau que está fazendo pareça ainda pior.
Em Paris, no reveillon. Uma data planejada há algum tempo e com algum cuidado, pois sempre achei que seria uma experiência memorável, Paris no reveillon.
Precisou estar aqui, precisou ser hoje, para eu entender pela primeira vez o verdadeiro sentido da palavra saudade. Saudade das coisas mais simples e mais rotineiras. Saudades daquele grupo que eu sempre encontro todo dia 31 de dezembro. Saudades da rabanada da Beira Mar que a tia Nina sempre encomenda. Saudade dos amigos (sim, amigos mesmo) que eu fiz aqui nesses meses e que estão, nesse momento, todos juntos, sem mim, em Barcelona. Saudade do meu filho-gato apavorado com o barulho dos fogos. Saudade do cheiro do meu travesseiro e da comfortabilidade inigualável que ele apresenta depois de uma noitada, quando se chega acabado e com maquiagem borrada já de manhã. Uma saudade incrível dos meus professores de filosofia da UFF!
Não acredito mais que exista alguém que não precise de ninguém. Não acredito que eu possa conseguir viver o resto da vida assim, como eram meus planos...
Eu trocaria os fogos (simbólicos, porque aqui não tem) da Tour Eiffel por passar a noite com as pessoas queridas. Por receber ligações da Tia Porfíria me desejando do fundo do coração tudo de bom, por abraçar a minha avó à meia noite e ouvir ela dizer "juízo, minha filha...", por festejar alegremente com os meus amigos na praia de Icaraí e dar risadas meio embriagadas até o dia clarear. Ou, se não pudesse estar no Brasil, por abraçar cada um dos meus amigos de Lisboa e dizer "Feliz Ano Novoooo!!!". Eles, mais do que qualquer pessoa, entendem perfeitamente essa saudade, pois estão na mesma situação que eu e, de certa forma, estarmos juntos ameniza essa depressão que bate quando a gente se dá conta de que cada escolha que fazemos na vida implica uma exclusão, não importa quão boa a escolha seja.
A gente nunca está mesmo satisfeito, outra característica da essência humana. Conheço tantas pessoas que dariam de tudo para estar no meu lugar agora...

Meus planos continuam os mesmos, ficar mais aqui, conhecer mais, pensar em mim e no meu futuro acima de qualquer coisa ou pessoa. Mas esses planos agora carregam um tom melancólico, um quê de tristeza, mesmo que eu seja eternamente grata por tudo o que vivi aqui na Europa. Quero continuar viajando, quero continuar conhecendo, mas hoje eu sei que meus pensamentos eram apenas falsas convicções disfarçadas por trás de uma suposta ideologia cool.

Marcelo, obrigada ter vindo e por fazer com que a falta que eu sinto de casa se torne um pouco mais suportável...
Amigos do Brasil, só agora eu valorizo essa coisa que a gente chama de amizade. Nunca pensei que nenhum de vocês poderia me afetar tanto (sorry pelo tapa na cara, mas pelo menos agora eu sei!).
Família, obrigada por ter ajudado a moldar o que eu sou e, consequentemente, onde eu estou hoje. Toda essa experiência tem sido incrível e eu nunca teria chegado aqui sem vocês... Vó, Vô... só agora eu saberei dar importância a tudo o que passamos juntos e a quanto vocês foram, são e sempre serão essenciais pra mim.
Erika, Tia Nina, Paula, Felipe, Lucinha, Lourdinha, Tia Porfíria, Tio Jaime, Pai, Vó Stella, Zé... apesar de toda a insanidade dessa mistura, eu não escolheria família diferente, mesmo que pudesse.

Por fim, gostaria de dedicar esse texto àqueles que eu conheci aqui e que de verdade mudaram a minha vida pra sempre. Annanda, Marina, Paula, Bruna, Natasha, Gui, Tuna... eu sinto falta de todos vocês hoje. Nunca pensei que fosse possível me apegar tanto a pessoas que conheci há poucos meses...

Marina e Annanda, eu agradeço a Deus todos os dias por ter ido parar na mesma casa que vocês! Às vezes eu ficava pensando com qual das duas me identificava mais e cada hora pensava uma coisa diferente. Mas depois eu entendi! Vocês duas, juntas, como tem que ser, são o uno com quem eu me identifico! A Marina é o meu lado calmo, sensato, pensativo, libriano, que dá risadas profundas e leves... A Annanda é o meu lado passional, desvairado, impulsivo, que tem dúvidas, apaixonado, que xinga logo quando alguém irrita! Vocês duas foram o equilíbrio perfeito para a minha convivência comigo mesma! Obrigada por tudo!

Paula, nós somos tão diferentes... mas, pra surpresa de nós duas, morremos de saudades e nos sentimos desfalcadas, incompletas, quando uma de nós viajou sem a outra! Acho que eu precisava de alguém como você aqui, pra me fazer lembrar que nem todo mundo pensa igual a mim e que no fundo é isso que enriquece as relações que formamos! Adorei todas as nossas viagens juntas, mesmo as que vc dirigiu! Rsrs... Obrigada por tudo!

Bruna, você é, sem dúvidas, a minha maior surpresa aqui! Uma menina que chegou do nada, quando o bonde já estava formado, já veio se convidando pra tudo, só porque é loira e linda, achando que já podia entrar assim no grupo... mas você pode mesmo! A pessoa mais espontânea e verdadeira que eu conheço... Você fez com que cada dia que passamos juntas aqui fosse mais divertido, pode ter certeza disso! Obrigada por tudo!

Natasha, você é louca e eu achei que ia querer te enforcar no primeiro dia que a gente se conheceu, quando vc, tremendo de frio, não vestiu meu casaco porque tem pavor de branco... Mas aos poucos eu vi que você é, na verdade, um doce! Você tem essas coisas que eu também tenho, porque você também se interessa pelos humanos e seus pensamentos... Eu na Filosofia, você na Psicologia, no fundo buscamos a mesma coisa! E eu admiro isso em você, porque você me mostrou ser muito mais inteligente e interessante do que eu podia imaginar... Isso sem perder seu lado engraçado e divertido, que é o que geralmente acontece com pessoas que pensam demais... Obrigada por tudo!

Guilherme, até agora eu não sei bem quem você é, apesar de ter estado com você praticamente todos os dias em que estive aqui! Talvez seja esse seu jeito meio bossa nova, meio rock and roll, que não me deixe entender bem você... Mas você é um excelente fotógrafo, escritor, motorista, fazedor de brigadeiro e, acima de tudo, uma excelente companhia. Foi chegando assim com jeitinho tímido, menino de interior, mas no fundo é sagaz, é um baita de um viajante, em todos os sentidos da palavra! Sempre disposto a se divertir, sempre de bom humor, topa tudo a qualquer hora e eu precisava de alguém assim, já que a galera tendeu a ficar cada vez mais preguiçosa... Tenho certeza que você fez todas as minhas viagens aqui serem melhores! Obrigada por tudo!

Tuna, nem sei por onde começar. Meu melhor amigo aqui, a pessoa com quem eu mais convivi, com quem eu mais conversei, com quem eu mais saí, quem eu mais xinguei, quem mais sabe da minha vida... Quando você chegou lá em casa com o Gui pela primeira vez, eu pensei: um bebezão grande de 19 anos que se acha muito esperto e sagaz, além de ter um ego que compete em tamanho com o meu... mas no segundo dia que estive com você descobri que você era uma pessoa incrível, brilhante (e isso não tem nada a ver com vc ter começado a faculdade de Direito com 16 anos), companheiro, carinhoso, engraçado e, o que mais me fez gostar de você, curioso pelo mundo como eu, viajante como eu. Conhecer você onde conheci e no momento que conheci foi um presente do Universo pra mim. Sem dúvida, você foi quem mais mudou a minha forma de ver as coisas aqui, talvez pela sua relação com amigos e família, talvez por todas as conversas que tivemos... Eu lembro que você disse uma vez que não se achava um cara comum porque sabia que de certa forma você acabou mudando a vida de todas as pessoas das quais você de alguma forma se aproximou... apesar de eu ter achado você um convencido pretensioso na época, pode ter certeza que isso é verdade! Obrigada por tudo!

Claro que eu teria que agradecer e estender essa verdadeira catarse a todas as outras pessoas que eu conheci aqui, que tenho certeza que me ajudaram a chegar a essa reflexão, mesmo que indiretamente ... Bia, Ricardo, Sarah, Giulia, Marco, Manu, Thiago, Luna, Rafal, Mabel, Yigit, Utku, Javier, Ana, Marina, Juliana, Estela, todos os outros espanhóis, italianos, polacos, tchecos, turcos, brasileiros, portugueses, a todos vocês, obrigada por passarem na minha vida e adicionarem algo a ela, mesmo que vocês não saibam.

Espero que quem leia, se alguém ler, entenda que o meu caminho não mudou. É o mesmo curso a percorrer, são os mesmos objetivos, os mesmos planos... O que mudou foi a minha maneira de encarar as coisas e trilhar esse caminho. Uma mudança interna, psicagótica, que talvez ninguém percebesse se eu não tivesse postado aqui. Mas uma mudança crucial pra mim e que me fez querer deixar as pessoas saberem que, mais do que nunca, eu sei o valor delas.

A todos vocês, meus votos de um 2011 repleto de realizações, de desejos, de amores, de paz, de saúde, de sucesso, de beleza, de felicidade.

Joyeux nouvelle année, mes chères amis!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Enfin, en France!


Sim, eu sei, há muito tempo que não escrevo aqui.
Muito já aconteceu desde a última postagem, que, se não me engano, foi sobre Marrocos. De fato, de lá pra cá, não faltaram acontecimentos para eu escrever e publicar aqui, mas a preguiça e os programas intermináveis me impediram de compartilhar mais um pouquinho dessa minha odisséia. Não importa, agora, aqui estou.
No momento escrevo de Paris (eu sei, que chato...), onde cheguei há algumas horas e onde pretendo passar a noite do dia 31.
Mas calma, first things first. Há coisa de vinte e poucos dias minha vózinha veio me visitar, junto com minha prima. Não aguentaram a saudade, aposto, apesar da desculpa de vir só pra poderem viajar um pouco pela Europa. Tudo mentira.
Elas vieram e dividiram seus 16 dias entre Lisboa, Madrid, Barcelona e Roma. As viagens foram ótimas e divertidíssimas, à exceção do primeiro dia em que estávamos na Espanha, pois a Easyjet perdeu minha mala, com meu computador portátil dentro, diga-se de passagem. Sim, eu fui estúpida o suficiente para despachar o meu laptop. Não, eu não coloquei nem identificação nem cadeado na mala. Mas as 24h de sofrimento por achar que nunca mais veria as botas que havia comprado na Itália ou todas as fotos que estavam guardadas na minha área de trabalho foram punição mais do que suficiente pra eu ficar mais espertinha e parar de contar com a sorte. Aprendi, podem deixar.
Enfim, depois do susto de Madrid seguimos para Barcelona. Ahh, Barcelona! Dá de mil em todas as outras cidades em que estive na Espanha! É o maior barato! Definitivamente quero voltar no verão.
De Barcelona voltamos para Lisboa por mais dois ou três dias e depois seguimos para a Itália. Era nosso plano ir também a Veneza e Florença, além de Roma, mas não foi possível. Cinco dias não eram suficientes para conhecer a cidade do Papa, ainda mais subtraindo todas as horas que se perdem entre trens, ônibus e aviões. Já disse isso aqui e repito: viajar é tudo de bom, mas o deslocamento cansa.
Ficamos, então, em Roma mesmo. E não podia ser melhor. Sou suspeita para falar da Itália, como quase todos sabem, mas realmente acho que Roma foi o melhor lugar que fui até agora. Vovó reclamou um pouquinho de lá, mas tenho certeza que foi só pra não perder o hábito. No fundo ela também adorou a viagem. (Tem até foto dela no colo de um centurião pra provar isso, rarrá!)
Voltamos de Roma e elas já estavam quase de volta para o Brasil, com apenas mais um dia em Portugal. No mesmo dia que elas se iam, chegava o Marcelo. Um dia agitado, entre restaurante, hotel, passeios e aeroporto. Mas tudo correu bem!
Eu e ele ainda não tínhamos nada pronto além de planos. Paris e Leste Europeu seriam obrigatórios. Acabamos passando Natal por Lix mesmo e só viajamos hoje. Chegamos em Paris de noitinha com uma temperatura de 0ºC e com as ruas "sujas" de neve, apesar de não estar nevando. Viemos para o hotel e logo fomos dar uma volta pelas redondezas. Friiio, principalmente quando bate o vento no nariz desprotegido. Mas tava agradável, devo confessar. Também, o que pode não ser agradável em Paris? Mesmo tendo comido um BigMac no aeroporto, a gula pela gastronomia francesa nos impulsionou a jantar um escalope de poullé avec champignon e tagliatelli num restaurante aqui perto. Delícia, mas exagero. Voltei para o hotel pensando "Por que eu sempre faço isso? Por que como mesmo quando não tenho fome?" Lembrei do livro do Veríssimo sobre a gula, O Clube dos Anjos, mas isso é uma outra história...
Agora, depois de checar tudo o que se há de checar nessa nossa vida virtual, e depois de assistir um episódio de Bones em francês e não entender nada, claro, vou descansar porque amanhã quero ir a muitos lugares e um dia continua tendo somente 24 horas, pelo menos por enquanto. (Quem sabe isso mude, com essa história de aquicimento global, deslocamento dos pólos e essas coisas...)
Um beijo francês para todos (no sentido literal, pelo simples motivo de eu estar mandando um beijo da França, seus danadinhos!) e até mais. Acredito que ainda vos escreva eu da Cidade Luz, pois novidades e opiniões não faltarão. Será só uma questão de tempo!
Então, au revoir!

domingo, 21 de novembro de 2010

Pra lá de Marrakech


Caos. Essa pareceu ser a palavra de (des)ordem por aqui. Chegamos em Marraquexe por volta das duas da tarde, abençoados por um céu azul e um sol quentinho, coisa que merecíamos depois dos seis graus de Milão.
Pra não variar, quase que a viagem não sai, pelo menos pra mim, que perdi a hora completamente e cheguei na estação de Lisboa com o trem já desembarcando para o Porto. Mas, depois dos susto, tudo deu certo. Aquela coisa de sempre, sair de Lisboa, ir para o Porto, chegar ao aeroporto do Porto, pegar um avião e, neste fim de semana, aterrisar em Marrocos.
Assim que chegamos na cidade em si, Marraquexe, tomamos (ou pelo menos eu tomei) um choque de realidade. É um outro universo. Os cheiros fortíssimos, as cores, as pessoas, os bichos, as motocas, os cavalos, as orações, é tudo misturado num espaço muito pequeno. O cérebro fica confuso, é muita informação. Na praça principal tem de tudo: um comércio gigantesco com milhões de barraquinhas que vendem desde frutas secas até bolsas de grife falsificadas. A crueldade com os animais é vergonhosa; há cobras, macacos, corujas, porco-espinhos, lagartos, todos sendo expostos para turistas, numa forma de espetáculo que não tem nada de espetacular. Não inventaram aqui a calçada: carros, pessoas, charretes e motocicletas passam umas entre as outras a todo o minuto. Também não existe semáforo; a “parada” é “ir na fé”. Há uma mistura desagradável de cheiros, de temperos, de essências, de pessoas, de animas e seus excrementos, de óleo de motor, de tudo o que se possa respirar. Os barulhos não cessam um só minuto: são tambores que soaram de momento em que chegamos até irmos dormir, são flautas desafinadas que os encantadores de serpentes não se cansam de soprar. As pessoas – à excessão dos turistas – são pobres e feias e tem cara de fome ou de psicopatia. As ruas são estreitas e iguais, ainda mais que aqui todas as construções são da mesma cor de telha. É um frenesi contínuo o entrar e sair, virar e seguir esquinas e ruas, um labirinto que faria inveja ao próprio Dédalo. Como disse: caos.
Depois que se habitua os sentidos a essa estranha realidade (parodiando meu caro Castañeda), as coisas não são tão ruins assim. É realmente interessante perceber como isso aqui é outra coisa. Tem que ter aquele olhar antropológico e buscar a alteridade. Parece uma mistura de África com Índia, em tudo o que há de melhor e de pior.
Bem, ao finalmente chegarmos ao nosso hostel, acertamos as coisas e voltamos para a praça, à procura desesperada de comida. Todos acharam pertinente experimentar as comidas típicas, já que estávamos aqui. Eu tive meus receios, mas topei. Decidimos por um restaurante razoavelzinho onde resolvemos pedir quatro pratos diferentes e experimentarmos todos um pouco de tudo. Algumas coisas eram boas, como o cuscus, outras não gostei, muito condimentadas, amarelas de açafrão e sei lá mais o que, como um tajine de alguma coisa. Apesar das diferenças entre os paladares, estávamos todos alimentados. Fomos então à melhor parte da viagem: pechinchas e compras! (Obs: éramos oito mulheres e dois homens andando em grupo...)
Lenços, bolsas, sapatos, laranjas, damascos, chaveiros, postais, doces típicos, mais lenços. Deve haver algumas centenas de barraquinhas aqui, sem exagero. Aprende-se logo que não existe comércio sem barganha ou pechincha. Todo o preço é redutível, na maioria das vezes até a metade. É um pouco engraçado manejar o dinheiro daqui, que vale bem menos que o euro. Troquei 50 euros no aeroporto e deu mais que 500 dihrans. Parece até que temos muito dinheiro! As coisas não são bem caras, se você souber negociar. Couro é bem barato. Os lenços são lindos, mas alguns são caros. Dá pra comprar uns bem bonitos por mais ou menos 5 euros, o que não é tão mau assim. Tem muuuita coisa falsificada, parece o Saara ou a 25 de Março. É Prada, Chanel, Louis Vuitton, Dior e tudo o mais. Mas as coisas daqui mesmo são bem mais legais... as bolsas de couro (de camelo?) adornadas com moedas locais, as sapatilhas pontudas à la Aladin, as pashminas brilhosas de todas as cores possíveis...
Enfim, depois de conhecermos o universo das compras, voltamos para o hotel, dispostos a encontrar algum pacote turístico baratinho pro dia seguinte. Conseguimos um a bom preço, 210 dirhans, ou seja, 21 euros. Depois de fecharmos o pacote, parte do grupo voltou para a medina para dar mais uma volta e pegar mais dinheiro e a outra parte foi ao mercado pegar uns lanchinhos para o dia seguinte, já que imaginamos que não seria muito fácil encontrarmos comida no meio do deserto. De volta ao hotel, era hora de tomar banho (para alguns, rsrs) e descansar, pois no dia seguinte acordaríamos bem cedo, às cinco, junto com a primeira reza dos muçulmanos.
Passado o susto dos sons entoados de forma desafinada no que parecia ser um megafone na hora da tal reza, levantamos, tomamos banho (novamente, alguns...) e fomos para o hotel central tomar “café da manhã”. Não se podia chamar bem de café da manhã, já que o que havia era chá, café, pão com cheiro de camelo e manteiga sem gosto. Ah, pelo menos o mel era bom... De qualquer forma, comemos tudo para “forrar o estômago” o máximo que pudéssemos.
Partimos então para uma van, onde estavam o motorista-guia Mustafah e um casal de suecos. No começo, tudo era festa e excitação, o que logo logo acabou quando percebemos quepão com gosto de cavalo e curvas não eram uma boa combinação. Muitas curvas, muito tempo, muita velocidade, muito enjôo. Cada cara parecia pior que a outra, todas pálidas, tristes, como se fossêmos botar tudo pra fora a qualquer momento, o que de fato aconteceu com duas das nossas tripulantes. Paramos algumas vezes na estrada para ver coisas interessantes e coisas não tão interessantes assim. O destino que todos almejavam era mesmo o tal do deserto, com direito a uma voltinha de camelo, então ver montanhas ou cactus ou plantações de oliveiras não estava nos animando tanto, ainda mais com o frio cruel que tínhamos que enfrentar cada vez que saíamos da van. Ah, mas a pior parte mesmo não era nem a náusea nem o frio, mas a música irritante que insistia em tocar. Gritos e gemidos desafinados acompanhados por uma flauta chata e uns tambores que davam dor de cabeça e agonia ao mais paciente dos mortais.
Após algumas horas de viagem, chegamos ao primeiro lugar realmente interessante – que, aliás, não sei o nome, assim como não sei o nome de nenhum outro lugar, porque não entendia absolutamente nada do que o guia falava – onde subimos a umas ruínas e vimos uma paisagem realmente bonita. Segundo o guia, foi ali que foram gravadas cenas do filme “Gladiador”. Havia umas lojinhas interessantes no caminho dessas ruínas, mas o guia sempre se irritava quando parávamos e demorávamos. Compreensível, já que havia nove mulheres e apenas dois homens, certamente submetidos às nossas volições consumistas.
Logo depois paramos novamente para almoçar (o que não fizemos, pois já havíamos “beliscado” coisinhas no ônibus) e depois seguimos para o tão esperado “deserto”, que não era bem um deserto, não tinha areia, nem dunas, nem oasis, nem miragens. Era mais um monte de pedra e paisagem árida, no meio do nada, onde três camelos magrelos e morgados descansavam do sol e do calor no meio de moscas e esquilos que vinham roubar umas nozes ou castanhas ou algo do tipo. Anyway, pagamos o equivalente a dois euros para subirmos, darmos uma voltinha e tirarmos umas fotos. Valeu a pena, pois não é todo dia que se sobe na garupa de um ruminante... Os bichos eram tão feios que chegavam a ser bonitinhos! Dei até um beijo num deles...
Depois das devidas fotos, seguimos pra a Hollywood marroquina, um lugar com diversos estúdios onde, segundo o guia, foram filmados filmes como “Cleópatra”, “Alexandre, o Grande”, “A Múmia” e praticamente todos os outros que tem como cenário o nada. Depois de pararmos por lá, era hora de voltar para Marraquexe, pegar toda a estrada e todas as curvas de novo, mas não sem antes darmos uma carona a dois espanhóis que tiveram problemas com o transporte em que estavam. Aperta aqui, encolhe ali, lá fomos nós. Desta vez, o guia estava ainda mais desvairado, acelerando nas curvas já ao anoitecer, para o desespero geral da nação. E a maldita música continuava, cada vez mais lata e mais irritante...
Felizmente, algumas horas depois voltamos ao centro, esfomeados e sujos, com aquela sensação de que já estava na hora de voltar para a nossa querida Lisboa. Fomos deixar as coisas no hotel e voltamos para comer. O segmento cool do grupo se aventurou a ingerir mais condimentos e comidas típicas fedorentas. Nós, os conservadores, fomos mesmo ao KFC, God bless America. Vale dizer que era um KFC, mas era em Marraquexe, ou seja, assepcia zero. Tudo bem, a esta altura do campeonato já não importava mais. Depois de comermos ainda fomos andar um pouquinho e encontrar o resto da galera, pra depois voltarmos para o hotel. Mas, ao chegarmos, nem fomos descansar, como era de se esperar. Fomos para o terraço, primeiro um pequeno grupo, um trio na verdade, eu, Sarah e Marina, mas logo depois vieram todos e ficamos algum tempo lá, encolhidos sob as cobertas, conversando sobre essas coisas que sempre se conversa quando se está no meio de amigos em Marraquexe: "pegações", música, coisas nojentas e quem se lembrava da morte de personalidades, de Senna a Claudinho e Buchecha (não sei qual dos dois), passando por Michael Jackson e Lady Di.
Depois de um tempo, o frio e o sono nos obrigaram a entrar e ir para a cama. Fomos e desta vez o cansaço era tanto que, pelo menos eu, nem ouvi a mesquita chamar seus fiéis. Acordamos um pouco mais tarde, umas oito e tal, para tomarmos banho (desta vez, havia shampoo!!!) e tomar o café da manhã, o que eu, pessoalmente, não estava nem um pouco ansiosa para fazer. Era a mesma coisa: pão de camelo, mel, manteiga sem gosto, chá ou café. Tomei um suco que compramos no mercado e comi um pouco de pão com mel. Resolvi deixar pra comer melhor na rua, o que, na verdade, só acabei fazendo no aeroporto.
Fomos mais um vez para a praça com as barraquinhas, com a intenção de gastarmos nossos últimos dirhans. Mal sabia eu que, ao invés de gastar o que restou e pronto, ainda tive que ir ao banco sacar mais quatrocentos “dinheiros” (era assim que a gente chamava a moeda), porque vi uma mala de viagem incrível de couro marrom, super chic, que resolvi comprar para o Marcelo (e, caso ele não goste, fica pra mim mesmo, porque a mala é i-n-c-r-í-v-e-l!
Depois de mais umas comprinhas, voltamos para pegar as malas no hotel e ir para o aeroporto. Claro que nós, mais uma vez, quase nos atrasamos para o avião, porque sumiu o iPod da Bruna. Complicações à parte, chegamos ao aeroporto e ainda deu tempo de comer uma tortilla e um croissant de chocolate. O vôo de volta foi ótimo, parte porque foi rápido mesmo, parte porque o avião não estava tão cheio, mas ainda acho que pesou o fato de estarmos, finalmente, voando de volta para “casa”.
Juro que o ar do Porto, ao desambarcarmos, era muito mais puro do que o de Marraquexe. Era como beber um copo d’água bem geladinho quando se tem muita sede. Nossos pulmões se sentiam sujos e sedentos de ar, e ao primeiro inspirar pareceu que tudo se limpou e satisfez. Talvez eu esteja exagerando, mas pareceu o ar mais puro e cheiroso que já respirei. Dava até pra sentir o cheiro do mar... No aeroporto, o rebanho se separou e eu, Sarah e Gui fomos pegar o metro para ir até a estação de comboios e voltar para Lisboa e o resto do grupo, Paula, Bruna, Juliana e Estela ficaram por lá, pois iam para a night no Porto.
Quando chegamos à estação, ainda faltava mais de um hora para a partida do nosso trem, então fomos fazer mais um boquinha (sim, a gente come!) e esperar o tempo passar. No momento, estamos dentro do Comboio, parados em Coimbra, a caminho de Lisboa. Espero que cheguemos dentro de mais ou menos duas horas, lá pelas 22h...
Bem, considerações finais, apesar deste post gigantesco falando mal de diversas coisas da viagem, ao contrário do que se possa pensar, eu realmente gostei da viagem. É incrível estar submerso em uma cultura completamente distinta da nossa. Eu pude ver como aquelas pessoas vivem e como o que é normal para elas causa tanto espanto entre a gente. Teria me arrependido se não tivesse ido. Valeu tudo a pena. As compras, as vistas, as pessoas, os camelos, o pseudo-francês misturado com inglês e português que tínhamos que falar com os nativos, já que não falávamos nada de árabe nem ber bere. Mas, como disse, já era hora de voltar. Foi curioso ir de Milão a Marraquexe no intervalo de uma semana. As vitrines impecáveis e reluzentes das grifes versus as tendas manchadas e rasgadas das barracas das feiras. Os salto-altos de sola vermelha Loubutin contrastando com as sapatilhas abertas, surradas, pontiagudas, de sola baixa, quase que uma folha de papel entre os pés sujos e o chão, mais sujo ainda. Mas eu vi beleza nos dois e acho que isso é o que importa. Gostei muito de ter passado por essa experiência (talvez sem a parte das curvas e da náusea) e acho que faria algo parecido, ir para a Índia ou o Egito ou outros lugares assim. Só por uns dias, claro...
Nosso próximo destino seria Londres, e digo no futuro do pretérito pois não sabemos mais se vamos, apesar de termos as passagens compradas. Parece que tem um esquema especial para entrar no Reino Unido que foge às regras aduaneiras da EU. Como nosso visto só nos permite duas entradas (por enquanto, pois em dezembro pegaremos a residência, yay!) – Portugal contou a primeira e países que não façam parte da EU, como o Marrocos, contam também – estamos com medo de irmos até Londres e ficarmos na porta. Mas nada é certo ainda, pode ser que o pessoal arrisque ir, pode ser que não... estou mais inclinada a deixar pra próxima, afinal foram só 38 euros a passagem...
Mas não se desesperem, caso eu não vá, continuo postando coisas aqui, sobre Portugal mesmo, ou sobre a próxima viagem, cujo destino ainda é desconhecido. Rumor has it que alugaremos um carro para dirigir a Europa toda, até onde o dinheiro para a gasolina der. Mas estes são planos futuros, para depois das aulas acabarem... até lá, tenho alguns destinos (e algumas companhias brasileiras!) em mente... mas estas são cenas dos próximos capítulos...
Então...beslama!

Ciao, bella!


Mal voltamos da Espanha, já era hora de partir para a Itália. Minha bela Itália, ah!, que sonho! (Vô Nicolino ficaria feliz...)
O caminho a percorrer era longo, primeiro tínhamos que ir de Lisboa a Porto (quase 4 horas de ônibus), depois da estação de Porto até o aeroporto (mais pelo menos meia hora), de lá pegaríamos um avião para Bergamo (2 horas e 40min), de Bergamo para Milão, outro ônibus (1 hora) e pronto, chegamos.
Tudo correu bem na ida, chegamos ao hotel perto de meia noite, deixamos a bagagem e fomos caçar alguma coisa para comer. Um friiiio... seis graus, a cidade parada, quinta feira de madrugada, nada estava vivo. Encontramos, finalmente, uma lanchonete turco-italiana que vendia pizza e kebab. Optamos pelo kebab, que estava com cara melhor, junto com batatas fritas (o pão nosso de cada dia) e coca-cola. A princípio, ninguém se entendia. O turco não falava inglês, nós não falávamos italiano. No final, deu tudo certo, fomos misturando um português com sotaque italiano com palavras básicas do inglês. Eu ainda arrisquei umas palavras em turco – que aprendi com meus amigos turcos de Lisboa – mas não passou de “oi, tudo bem, como vai”. Ok, pedida a comida, sentamos, só tinha a gente, eu, Bruna, Paula e Gui. (Siiiim, o Gui foi pra Milão com 3 mulheres! Tadinho... logo Milão, com todas as lojas que, como sereias, parecem cantar e encantar a gente, fazendo-se impossível não entrar.) Enfim, pelo meio da refeição, entram 4 caras mucho locos falando um inglês engraçado e rindo de tudo. Quatro suecos bêbados, mas muito divertidos! Foram para Milão para fazer auditoria em um congresso e, àquela altura, não sabiam pra que lado ficava o hotel. Um deles comprou um megafone para gravar insultos de estrangeiros em todas as línguas possíveis e pediu pra gente xingar algo em português. Como somos todos tímidos e polidos, não o fizemos, claro. E ele, claro também, começou a apurrinhar falando coisas incompreensíveis no tal megafone, perturbando a paz pública. Mas tudo bem, foi divertido. Um deles era casado com uma espanhola e começou a falar em espanhol com a gente quando soube que éramos brasileiros. Eu ainda peguei meu prhasebook que contém utilidades em 14 línguas, procurei a parte sueca e arrisquei umas palavras. Moral da história: a certo ponto, estando há menos de 2 horas em Milão, já havíamos falado português, inglês, turco, italiano, espanhol e agora sueco. Adoro a globalização!
Voltamos para o hotel para descançar um pouquinho e acordar cedo no dia seguinte. Assim o fizemos, com algum protesto pois a cama estava quentinha e confortável, mas acabamos combatendo a preguiça e saímos logo. Paramos para tomar café numa padaria espetacular, onde comi um panini divino (pão de azeitona – a melhor massa de pão que já comi – com salame e mais alguma coisa) pela miséria de 1 euro! Seguimos para o centro, parando em algumas lojas pelo caminho, como era de se esperar. A certo ponto chegamos a uma avenida só de grifes... babei: Dior, Prada, Louis Vuitton, Gucci e cia ltda. O mais engraçado é que, ao final de todo esse luxo, dava pra ver, na esquina da avenida, o Duomo, a Catedral de Milão.
Inimaginável, indescritível. Não dá pra expressar em palavras ou fotos, tem que se estar lá. A catedral é fantástica, compete com a de Compostela. Sem dúvida, é o que há de mais belo em Milão. Aliás, Milão é legal, mas tirando as lojas e a Catedral, não tem mais nada demais, à exceção de alguns museus interessantíssimos no Castello Sforzesco. Voltando à catedral, passamos um tempo lá dentro, apreciando sua beleza inenarrável. Depois, lembramos que precisávamos comer! Mc Donalds, pra que te quero. Pra mim, dois cheesburguers, dois milkshakes (um de fragola, um de ciocolatto) e uma patatine picolo. Cada coisa custa um euro, então, com cinco, fizemos um banquete! “Comi demais”, foi o que pensei pelo resto da tarde. Continuamos andando pela cidade, descobrindo lugarezinhos interessantes, mas logo logo escureceu, pelas cinco da tarde, e resolvemos voltar cedo para o hotel, passando antes pela estação central, para comprarmos passagens de trem para Gênova para a manhã seguinte.
Depois de uma banho pelando e um descanço de umas horinhas, saímoos, eu e Guilherme, em busca de um orelhão para falarmos com nossos amados do outro hemisfério. Na volta para o hotel, passamos por uma pizzaria. Levamos uma de volta para o hotel e comemos todos juntos. Claro que uma não foi suficiente, então o Guilherme voltou e comprou outra. Que delícia... a massa era deliciosa, o queijo também... tudo era divino!
Dormimos assistindo tv e no dia seguinte levantamos cedo para ir pegar o trem. Apesar de não acharmos a plataforma e entrarmos no trem faltando dois minutos para ele partir (aliás, isso aconteceu no avião de ida e volta também!), no final, entre mortos e feridos, deu tudo certo. Duas horas depois, estávamos em Gênova! Que cidade linda... uma gracinha mesmo, construída em níveis, uma camada em cima da outra, de frente pro mar. Não estava tão frio quanto em Milão, graças a Deus. Passamos o dia todo andando pela cidade (aliás, o que mais fizemos nessa viagem foi andar), parando no Mc Donalds de vez em quando para recarregar as energias. Andamos, andamos, andamos, começou a chover, começamos e cançar, Bruna começou a ter enxaqueca, então voltamos para a estação. A errada, a princípio. Mas depois fomos para a certa, de táxi. Aviso aos navegantes: táxi, na Itália, é caro pra c...! Minha amiga pegou um táxi de Roma (centro) ao aeroporto e pagou quase 100 euros. Outra conhecida correu 10 minutos pela cidade e pagou 60. Nós o pegamos por menos de 3 quilômetros e pagamos mais de 10. Enfim, chegamos à estação certa, adquirimos os bilhetes e esperamos até a hora de embarcar, não sem antes comer um croissant de chocolate!
De volta a Milão, fomos ao restaurante onde havíamos comprado a pizza na noite anterior, dessa vez para uma pasta italiana! A galera comeu carbonara, eu, gnocchi ao pesto. Ainda pedimos um prato de camarão, lula e peixe fritos. E foccacia, claro! De pança cheia e aquecidos, voltamos ao hotel. A manhã seguinte seria nossa última pela cidade. Acordamos pelas nove e fomos dar mais uma volta, tentar chegar até o castelo que não conseguimos ver nos dias anteriores. E lá fomos, debaixo de chuva. O castelo era bonito, mas lindos mesmo eram os museus do castelo. Diversas exposições, cada uma mais linda que a outra. Prevendo que nos desencontraríamos, até porque eu era a única historiadora dali, ou seja, a única que realmente fica horas babando nos quadros, olhando tudo nos mínimos detalhes, combinei com os outros três de nos encontrarmos em tal lugar caso nos separássemos. Como se fosse profecia, é claro que nos separamos. Assim que eu percebi que não estávamos mais no mesmo museu (eram vários), desci para o ponto de encontro. Ninguém estava lá. Fiquei mais um pouco, andei para a entrada para ver se estavam por lá, voltei para o ponto de encontro e nada. Vale ressaltar que ninguém tinha telefone e que em menos de duas horas tínhamos que estar dentro do ônibus de vola para Bergamo. Pensei, depois de esperar mais uma meia hora: “devem ter ido para o hotel e estão me esperando lá, pois estamos em cima da hora e essa seria a coisa mais lógica a fazer”. Peguei então um metro e fui para o hotel. Chegando lá, vi que as malas ainda estavam na recepção, ou seja, eles não haviam chegado. Era uma e meia da tarde e nosso ônibus era às duas! Troquei algumas palavras com a recepcionista/dona do hotel e ela disse que eles realmente não haviam passado por lá. Esperei mais quinze minutos e decidi que eu iria embora sem eles, pois não podia perder meu vôo. “Pqp, eu fiquei com todas as passagens de avião de todo mundo e os tickets do ônibus também! Se eu for embora sem eles, eles vão me matar!” Por inspiração divina, me veio a brilhante idéia de deixar um bilhete com as passagens na recepção, afinal, eles teriam que voltar para o hotel para buscarem suas coisas de qualquer maneira. Deixei lá tudo, parti sozinha e preocupada (com eles, não comigo) para mais uns cheesburgeres no Mc Donalds e fui para o ônibus. Resolvi pegar o de 14:30h, sendo que demoraria uma hora até o aeroporto e nosso portão fechava às 16:35. Ou seja, o horário era apertado e o ônibus de 14:30h era o último que tínhamos que pegar, se não quiséssemos perder nosso aviãzinho.
Esperei até o último minuto, desisti, entrei logo no ônibus, convencida de que voltaria para Lisboa sozinha. Mais uma vez, faltando dois minutos para o ônibus sair, com o motor já ligado, vejo os três chegando esbaforidos. “Eu vou matar vocês!” Acabou que, quando eles perceberam que havíamos nos separado no castelo, resolveram continuar olhando as exposições me procurando e só desceram para o ponto de encontro uma hora depois de mim, pouco depois de eu já ter ido embora. Chegaram no hotel mais de duas da tarde e foram correndo para a estação.
Enfim, conseguimos chegar ao aeroporto a tempo e voltar são e slavos. Nosso vôo foi razoável, falamos besteiras a viagem inteira pra passar o tempo e demoramos muito pra chegar à estação que precisávamos para pegar o ônibus, depois que saímos do avião. Viajar é ótimo, mas cansa, especialmente os trajetos e as horas e mais horas perdidas em locomoção. Já havíamos passado 16 horas sentados em transportes num período de três dias e ainda havia mais pelo menos quatro até Lisboa. Estas quatro foram, sem dúvidas, as mais cansativas. Vim sentada ao lado de uma pessoa insuportável que falou no telemóvel as exatas quatro horas da viagem, sem desligar. Tudo bem que a vida dela até que era interessante, mas eu realmente queria paz. Além disso, o ônibus fazia algumas paragens que demoravam e ainda tivemos que passar por uma revista, não sei bem porque, mas que nos prendeu ali por alguns longos minutos...
Chegamos, finalmente, a Lisboa faltando dois minutos para fechar o Metro. Ainda pensei que tivesse perdido meu passe e tive que “pular a roleta” (não é bem isso que se faz, mas o sentido é o mesmo). Depois achei o passe, graças a Deus. Fui pra casa morta e ainda debaixo de chuva. Quando pensei que poderia finalemnete descansar, lembrei de um trabalho que teria que ser entregue impreterivelmente até o dia seguinte, e lá fui eu ler a historiografia francesa do século XX e fontes portuguesas e brasileiras do século XVI. Já eram mais de três quando o sono me venceu e decidi dormir um pouco até as sete pra depois acordar e estudar de novo. No final deu tudo certo, li tudo, escrevi, acabei o trabalho e, honestamente, até achei que ficou bom! Descansei mais um pouco durante o dia e de tarde fui com minhas amigas ao shopping, ver um filme (Ah, não! De novo tu!), comer, jogar no playcenter (sim, eu sou crian ça) e, no final do dia, beber uma cerveja.
Mais uma viagem, mais cultura, mais novidade. Está sendo incrível passar por isso tudo aqui, ver tanta coisa, conviver com tanta gente. Eu realmente me sinto muito próxima das pessoas com quem tenho andado, como se fôssemos todos amigos de décadas... galera, minhas viagens não seriam a mesma coisa sem vocês! Obrigada pelo companherismo e pela paciência... já temos mais duas planejadas, mas isso é só o começo! O céu (ou o visa travel money) é o limite! Vamos? Vamos!
Brasileiros, mando mais notícias diretamente do continente africano... Próxima parada: Marraquexe. Muita curiosidade, muitas expectativas... Até breve! Arrivederci!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Heil Ratzinger!

Quinta à noite: "A gente bem que podia alugar um carro e ir para a Espanha, hein?" "É, podia sim, mas quando?" "Sei lá, semana que vem a gente vai pra Itália, depois pro Marrocos, depois pra Inglaterra... tá meio complicado..." "Ah, só se a gente fosse esse fim de semana" "Mas cara, esse fim de semana já é amanhã!" "Eu sei! E daí?"

Foi assim que começou nossa viagem; Um carro, cinco pessoas, dois mil quilômetros em 48 horas. Saímos de Lisboa na sexta à noite com destino a Santiago de Compostela, Galícia, Espanha. Chegamos por lá de manhãzinha, um frio de doer os ossos. Pela cidade, percebemos que desde muito cedo havia grupos de pessoas nas ruas e muita polícia. Não fazíamos idéia da possível razão...
Até que um dos tripulantes dessa odisséia disse: "Hey, eu bem acho que ouvi dizer que o Papa ia vir pra cá por esses dias... acho que semana que vem ou algo assim..."

Nós, inadvertidamente, fomos ao encontro do Papa. Nenhum de nós sabia que estaria prestes a participar de um momento histórico. Pra falar a verdade, ficamos duvidando disso por um bom tempo... C'mon, quais são as chances?!?!

Ficamos em Compostela um pouco mais, mas depois decidimos navegar para outro lugar, pois a cidade estava um tanto intransitável e nós não pudemos entrar na majestosa catedral (de longe, o melhor programa para se fazer na Galícia).

Resolvemos dirigir mais seiscentos e tal quilômetros e ir para Madrid! No caminho, paramos em Monterrei, uma cidadezinha medieval incrível com um castelo lindo e uma paisagem de tirar o fôlego... coisa de filme!

Chegamos em Madrid já de noite, encontramos uma pensão pra dormir e uma paella pra comer. Não precisávamos de mais nada. Fomos, então, conhecer um pouco da cidade. Andamos pelo centro, mas voltamos logo, porque, além do frio, combinamos de acordar às 7h no dia seguinte. E assim foi. Acordamos mesmo cedo, fomos tomar café da manhã (delicioso, diga-se de passagem) e partimos em busca dos pontos turísticos, tantos quantos fosse possível visitarmos em mais ou menos 6 horas.

Fomos a vários lugares legais: Catedral de Almudena, Palácio Real, Palácio de Cristal (dentro de um parque magnífico!), Plaza Mayor, Plaza de Espanã, Puerta del Sol e, de quebra, ainda passamos em frente ao estádio do Real Madrid. Descobrimos que ia rolar o EMA da MTV na cidade aquela noite e que a entrada era de graça! Pensamos seriamente em ficar mais uma noite, mas depois deixamos pra lá, a final todos tinham aulas na segunda (menos o Guilherme, que é fanfarrão) e também teríamos que pagar multa na devolução do carro, coisa que ninguém queria, principalmente de termos gastado mais de 100 euros só de pedágio pelas estradas, sem contar lembracinhas, camisetas, comida etc. Quase fomos à falência, mas teríamos ido sorrindo! Valeu tudo a pena!

Última paragem de Madrid: Burger King pra encher a pança e cair na estrada! Entrei no carro e dormi debaixo da minha mantinha... já tinha ficado acordada a noite anterior inteira, tava na minha vez de descansar... Acordei umas três horas depois quando o carro parou pra abastecer. Aproveitamos e fomos tomar um café no bar da Harley Davidson que tinha ali (o máximo) e ainda ganhamos 10 euros numa slot machine!!!

Back on the road, continuamos seguindo para Lisboa ao som de três mocinhas desafinadas para o desgosto dos meninos... Depois de deixarmos as coisas em nossas respectivas residências, fomos devolver o carro no aeroporto, por volta das onze da noite.

Depois que entregamos as chaves e saímos do aeroporto tivemos aquela sensação de "ahh, que fim de semana incrível... pena que acabou", mas só por alguns segundos pois alguém (Bruna) teve a brilhante idéia de irmos beber os dez euros que ganhamos! "Vamos pro Bairro Alto, galera?" Não precisou perguntar duas vezes... 2 shots de tequila e pipoca pra todo mundo! Nosso fim de semana só acabaria na segunda!

Hoje voltamos à realidade, que pra gente não tem esse peso de "voltar para a realidade", já que a nossa realidade é se divertir em Lisboa! O pessoal vem pra cá daqui a pouco pois temos que fazer contas e fazer nossas reservas em Milão, para onde vamos nesta quinta! Parece que depois ainda vai rolar uma peça de teatro, mas essa acho que vou passar... tenho milhões de coisas pra ler e escrever! Não é mole ser estudante na Europa... não pelo nível, que é bem inferior ao Brasil, mas pela quantidade de coisas que tem pra te distrair e fazer com que vc deixe tudo para a última hora! Rsrs.

Bem, fico por aqui, com mais essa experiência.
Escrevo de novo em breve, provavelmente de Milão, ou Marraquexe, ou Londres...
Vida chata essa... ai ai...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Navegar é preciso...

Nunca sei bem qual vocativo evocar quando começo um post aqui... Não é "todo mundo", nem "amigos", nem "pessoal". Acho que devo evocar a mim mesma, já que criei isso aqui pra eu mesma ler. É uma coisa meio reflexiva, eu escrevo e eu leio, sou sujeito e objeto da minha arte (nossa, baixou Heidegger aqui agora!)
Bem, já vi que essa coisa de ficar dando dicas não rende comentário, então vamos falar sobre outra(s) coisa(s).
Tudo certo aqui por Lisboa, só mais do mesmo. Faculdade, festas, livros, bebidas. É sempre isso.

Pra quebrar um pouco essa não tão monótona monotonia, este mês começo a viajar. É engraçado que, quando digo que vou a algum lugar, tanto os estrangeiros quanto os próprios nativos dizem "ah, vc vai pra Europa?", como se Portugal não fosse Europa. Mas sim, vou para a Europa! Tenho três passagens para esse mês: Milão, Marraquexe, Londres, nessa ordem. Mês que vem: Madrid, Barcelona, Roma, Veneza, Paris no Natal. Estou pensando em passar o ano novo em Praga, mas ainda não tenho certeza. Janeiro ainda está pendente, pois tem que ser uma decisão a dois. Estou inclinada a ficar pelo leste, Viena, Budapeste, esses lugares. Será que o Marcelo topa?
Enfim, dado o itinerário detalhada e inutilmente, estou bastante animada. Fiquei um pouco chateada por saber que o Duomo di Milano - a catedral de Milão - está em obra. Este realmente era o lugar que eu mais queria ir por lá. (Não, não foi nem a Prada nem a Gucci que me fez querer ir para Milão, foi a História mesmo, juro...)
Ainda assim, tenho certeza que vou me divertir. Certamente postarei minhas aventuras e peripécias aqui, pode deixar. Aliás, falando em peripécia (no termo da poesia e da tragédia) e lembrando das aulas de Literatura Grega, vale a pena conferir a Poética de Aristóteles. Fica a dica.

Voltando e pedindo desculpa pelas interrupções da narrativa - acho que de tanto ler a Ilíada estou começando a abraçar essa coisa de demora épica, eheheh - postarei novidades quando voltar da Itália.

Sei que não tenho escrito muito aqui e a culpa é da infinitude de coisas que há para se fazer em Lisboa. Agora mesmo estou procrastinando minhas responsabilidades: tenho que ir para a faculdade apresentar oralmente alguns cantos da epopéia homérica e da virgiliana. Coisas de nerd, sabe? Adoro!

Hoje, depois das aulas, vamos comemorar o aniversário de um amigo no Bacalhoeiro. Outra dica: Bacalhoeiro é O lugar para se ir em Lisboa! Música ao vivo (hoje é Jazz - a gente sempre vai pra ouvir Jazz), cerveja barata e um crepe de comer rezando! As pessoas são sempre legais por lá, é um público meio alternativo, um pessoal mais tranquilo, que foge daquelas noitadas típicas dos erasmus em que se dança até o chão com alguém que nunca se viu, se sobe no palco e se contrai uma leve amnésia alcóolica. Prefiro o Bacalhoeiro (pelo menos hoje...eheheh).

Até!